Diante de nós uma certeza nos perturba a existência: A MORTE. Essa verdade irremediável que iguala todo ser humano num só rebanho de criaturas, como sentenciava a personagem de Ariano Suassuna. Alguns se acovardam perante a inexorabilidade do termo da existência e vão buscar na fruição do gozo, paliativos que ocultem esta realidade latente. Outros, porém, enfrentam-na com a galhardia de uma águia em vôo rasante. Uns fogem da dor, e temem controlar seu medo em face do pavor do perigo, enquanto outros, duelam a existência e não temem entregar suas vidas ao desconhecido, à viagem que os levarão aos páramos sombrios e distantes.
A tourada resume o drama da existência, quando o homem, frágil e solitariamente, doma – com a razão – o medo e seus instintos de sobrevivência. Na arena, mais que a vida, vale a glória, a honra, o controle de si mesmo. É a ocasião em que a morte, essa tragédia que repugna a razão, ganha contornos de insondável beleza.
O toreiro não é apenas aquele que mata o touro, mas que oferta o ocaso de sua efeméride e nos ensina a tratar com nobreza destemida aquela triste realidade, que cedo ou tarde, visitará a cada um de nós.
Por sua vez, o bravo touro, na sua queda se assemelha às folhas, cantadas e imortalizadas poeticamente nos versos de Rostand, na voz de Cyrano de Bergerac:
“E olhai: na queda, que primor!
Nesse breve passar do ramo para a terra
Elas põem um donaire. A morte, que as aterra,
Não faz que, antes de vir apodrecer no chão,
Deixem de ter, caindo, uns ares de ascensão”
O touro, a quem é dada a oportunidade de lutar, caindo de joelhos diante da estocada fatal, como que fazendo sua última prece, tem, caindo, uns ares de ascensão. Ele não morre sentado, como se passasse em vão pela vida. Não morre desesperado, como os que devotaram sua vida ao prazer. Não morre enganado, como os que amam aquilo que não importa.
No duelo, um e outro se completam necessariamente. E o rubro do capote, é a glória do sangue do animal.
A “Casa de Manolete”, visa a reunir materiais, crônicas e poesias com temáticas voltadas à disseminação desta tão bela manifestação da Cultura Espanhola, tão incompreendida pelo hipócrita tempo moderno, que falseia o discurso pela valorização da vida. Para tanto, buscamos o nome de um mito das arenas, Manuel Rodríguez, o Manolete, aquele homem admirado, inclusive, pelo poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Vamos sevilhizar o Brasil!