OS MÁRTIRES DE ROMA E A TOURADA

 

os matires de roma e a tourada

       Muitos dos mártires da Roma Antiga foram mortos por feras em espetáculos abertos ao público. Além da abjeção diabólica do “show” e da beleza do martírio, podemos aduzir outra significação interessante.

      O Império Romano foi glorioso em suas conquistas e possuía o melhor Direito da antiguidade, concedendo paz e estabilidade aos seus cidadãos.

      Porém, o Império Romano era pagão…

      A vontade reinante era a da sujeição da alma aos prazeres da carne e do espírito à matéria.

      Roma estava entregue à devassidão, à escravidão das paixões e ao príncipe deste mundo. Tal visão de mundo era incompatível com o catolicismo ascendente.

      Este conflito só poderia terminar em sangue. Roma queria sufocar os convertidos e fazê-los abjurar de sua fé.

      Os cristãos que não apostataram, sucumbiram brutalmente nas arenas, estilhaçados por feras e sob o aplauso de multidões apaixonadas pelos vícios.

      As feras podem bem representar o mundo pagão, o lado irracional das paixões, os prazeres ilícitos, o corpo e a carne.

      Os cristãos eram os convertidos que já haviam sufocados suas paixões, sujeitavam o corpo ao espírito e queriam servir somente a Deus.

      Roma vencia, então, as feras venciam.

      É bem verdade que a derrota dos mártires era apenas superficial, pois ganhavam o céu.

      Um dia, porém, o Império Romano se converteu por causa do sangue dos mártires e depois desapareceu. No varrer dos séculos, outros reinos e impérios surgiram.

      Um destes impérios era o espanhol, muito católico, que queria converter os pagãos, estilhaçar as heresias e pelejar contra os inimigos da fé.

      Surgiu a tourada na Espanha.

      Ela é o inverso da arena romana. Nela, o sangue derramado são os das feras e não os dos cristãos. Nela, estão presentes os valores de guerra bem católicos que fazem a sujeição do corpo e da carne ao espírito e à alma. Serve a Deus e não ao mundo, é antipagã. A multidão aplaude o toureiro e não a sua morte.

      A tourada, por assim dizer, de modo simbólico, “vinga” a morte dos mártires com a peleja contra as feras, os touros.

      Era muito comum na Espanha fazer touradas para comemorar os dias dos mártires.

      Por causa da inversão do significado, toda vez que assisto a uma tourada, lembro-me de que mártires da Roma Antiga morreram em arenas.

      E também, porque, afinal, somos católicos hoje porque milhares pereceram naqueles sangrentos circos de outrora.

Marcelo Andrade.

29 de outubro de 2013