Encerrona de José Miguel Arroyo, “Joselito”, em Madrid

Después de los 10 años de tomar su alternativa, logra un triunfo apoteósico con toros de diferentes ganaderías, una tarde inolvidable. Aquel día “Joselito” cambió el curso del toreo contemporaneo. El 2 de Mayo de 1996 José Miguel Arroyo “Joselito” dio una grandiosa tarde de toros en la plaza de Madrid tras despachar con enorme brillantez seis toros en solitario. El diestro madrileño, vestido de goyesco, atravesó en loor de multitudes la Puerta Grande del coso venteño.

Javier Villán, crítico taurino del diario El Mundo, tituló su crónica “Joselito es el rey” y comenzaba: “Van a necesitarse todos los pintores, y alguno más, que estos días exponen en Utopía sus tauromaquias de Joselito, para reflejar el devenir de este torero. Utopía: eso es lo que hizo José Miguel Arroyo; conquistar la utopía de la pureza torera, hacer realidad la utopía tantas veces negada. O vilipendiada. Sabemos ya, lo reafirmamos porque saberlo lo sabíamos, que el toreo es grandeza. Y con toros, no con simulacro de toros”. Villán, proseguía: “No fue solo una tarde completa; fue un compendio de tauromaquia. Después de esto, las dudas que puedan surgir respecto a José Miguel Arroyo, serán únicamente las dudas que vierta él sobre sí mismo. Su verdad y su tauromaquia están ya dilucidadas. Y su hermosa imaginería con el capote; y su sentido del rito y la ceremonia. Y la matemática de los terrenos. Y un valor seco sin aspavientos ni gestualismos. Hoy por hoy, Joselito es el rey de la torería”. Joaquín Vidal, del diario El Mundo, titulaba su crónica “Apoteosis de Joselito” y escribía en ella: “¡Gran tarde de Joselito en Madrid! La mejor tarde de toda su carrera redondeó Joselito ante la afición de la primera plaza del mundo. Toreó como los ángeles en diversos pasajes de sus faenas, entró a quites en todos los toros desplegando un amplísimo repertorio que dejó anonadado al público; estuvo relajado y seguro, dominador y valiente, por encima del bien y del mal, y ni siquiera iba mediada la corrida cuando ya había alcanzado la apoteosis. Los olés y las ovaciones fueron continuos desde que hizo el paseíllo hasta que tumbó al morucho pregonao sobrero de Cortijoliva que hizo sexto.
Info: Aplausos

OS ÚLTIMOS DE FILIPINAS: OS PRIMEIROS EM BRAVURA

À memória dos heróis do Sítio de Baler

 

O desfecho da guerra Hispano-Americana de 1898, uma “guerra de encomenda”, teve um triste desfecho para a Espanha O império que um dia nunca via o sol se pôr, com o passar dos tempos, viu diminuir seu tamanho (principalmente com a perda de quase todas as colônias da América) e nessa infeliz guerra, perdeu Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam. A Espanha conheceu o ocaso (nos dois sentidos da palavra). Restariam apenas algumas pequenas colônias africanas.

Nas Filipinas, setores revoltosos, organizados em sociedades secretas, lutaram contra a Espanha a partir de 1896, e com a eclosão da Guerra Hispano-Americana em 1898, os revoltosos passaram a contar com a ajuda americana e neste mesmo ano foi selada a derrota espanhola e foi instalada a primeira república filipina. Porém, em 1899, os EUA não aceitaram a independência filipina e se desentenderam com o governo, deste modo, os EUA resolveram lutar contra a própria nação, que supostamente estavam ajudando, foi o início da Guerra Filipino-Americana (1899-1902).

Durante essa guerra, os EUA, que saíram vencedores, agiram brutalmente contra os filipinos, praticaram o que ficou conhecido como o “genocídio filipino”, no qual algum número entre 5% a 10% da população morreu por causa dela. Massacres e torturas (como a “prova d’água”) foram empregados em grande escala. Na ilha de Samar, por exemplo, o general americano Jacob Smith ordenou o extermínio de todos os filipinos com idade acima de 10 anos.

Os americanos instalaram campos de concentração, ou melhor, “campos de morte” e deslocaram milhares de aldeões, tudo isto causou doenças e muita fome entre os locais. Muitas construções do belo estilo barroco-filipino, incluindo igrejas, foram destruídas. O que os EUA fizeram lá lembra o que fizeram contra os índios em seu próprio território. E é claro, o ódio americano foi aumentado por serem os filipinos católicos.

A Espanha que salvou milhões de filipinos da selvageria e do paganismo, dando a eles o sabor da civilização e a religião católica é que era a “malvada”, “bom” mesmo eram os EUA, a nação próspera do “destino manifesto”, adorada pelos liberais, que exterminou boa parte da população filipina.

Curioso notar que este lamentável episódio da história americana é sumamente ignorado pela historiografia.

Neste contexto de Guerra Hispano-Americana aconteceu o que ficou conhecido como “Os últimos de Filipinas”, no qual um grupo de militares espanhóis resistiu bravamente durante o “sítio de Baler”.

Na costa oriental da ilha de Luzón, num vilarejo de nome Baler, um grupo de 58 homens se aquartelou na Igreja de São Luis de Tolosa, de 300 metros quadrados, prevenindo-se de ataques iminentes, entre eles, estavam o pároco local e um médico tenente. Esta igreja já tinha sido usada como fortaleza um ano antes. Era o dia 1 de julho de 1898 e o superior era o capitão Enrique Las Morenas.

Os combates não tardaram a começar e sem sucesso na conquista da igreja-casamata, os filipinos tentaram convencer os espanhóis a se renderem, alegando que que a armada espanhola já havia perdido a guerra. Las Morenas recusou todos os apelos.

Os combates prosseguiram dia a dia, depois semana a semana, depois mês a mês… e alternavam-se os períodos de fúria e de calmaria e houve muito vai e vem de forças filipinas.

No dia 20 de agosto, os filipinos enviaram dois padres franciscanos para tentar convencer os espanhóis a se renderem: Minaya e Lopez, que não só não convenceram Las Morenas a se render, como foram convencidos a ficar. Tal fato irritou os filipinos, que prosseguiram nos tiros e mais tiros em direção à igreja-casamata.

Algum tempo depois, Las Morenas morreu de disenteria ou de beriberi, e longe de abaterem, os espanhóis continuaram a resistência, no seu lugar assumiu Martin Cerezo, um homem conhecido por não ter vícios e ser “testarudo”.

Olmedo, um oficial espanhol, enviado pelos filipinos tentou convencê-los a se renderem, porém, como estava trajado a apaisana e era conhecido de Las Morenas e não de Cerezo, não houve rendição.

Martin Cerezo ordenava que sempre se cantassem músicas de fiestas no fim dos dias, fato que muito surpreendeu os inimigos. E nas datas religiosas havia comemoração, assim foi no dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição e na noite de natal fizeram uma refeição “especial” com abóbora, laranja e café e realizaram uma fiesta, contaram até com o uso de alguns instrumentos musicais.

Os espanhóis tinham de sair nas madrugadas para caçar animais e colher frutas ou vegetais, também contavam com uma “horta” improvisada num “quintal”.

Em março de 1899, os filipinos utilizaram um canhão para o ataque e de posse dele conseguiram derrubar o teto da Igreja, acharam que haviam vencido, e de repente viram um mastro subindo, seria a “bandeira branca”? Não. Era a bandeira espanhola toda remendada, afinal como está no lema da estátua de Carlos V, no Alcácer de Toledo:

“Se eu cair, levanta primeiro meu estandarte”

No final de maio de 1899, chegou a haver combate corpo a corpo num canto da Igreja-casamata.

Porém, nos últimos dias de maio de 1899, um oficial espanhol, o coronel Aguilar chegou à igreja-casamata e pediu para falar com o superior Cerezo, e lhe diz que a Espanha perdeu de fato a guerra e há ordens para fazê-lo se render e lhe mostra jornais comprovando os fatos.

Cerezo voltou à igreja-casamata e reuniu-se com os outros sitiados, que resolvem, então, entregar-se, mas não incondicionalmente, Cerezo apresentou as exigências aos filipinos que aceitaram:

 

En Baler a los dos días del mes de junio de mil ochocientos noventa y nueve, el 2.º Teniente Comandante del Destacamento Español, D. Saturnino Martín Cerezo, ordenó al corneta que tocase atención y llamada, izando bandera blanca en señal de Capitulación, siendo contestado acto seguido por el corneta de la columna sitiadora. Y reunidos los Jefes y Oficiales de ambas fuerzas transigieron en las condiciones siguientes:
Primera. Desde esta fecha quedan suspendidas las hostilidades por ambas partes beligerantes.
Segunda. Los sitiados deponen las armas, haciendo entrega de ellas al jefe de la columna sitiadora, como también de los equipos de guerra y demás efectos pertenecientes al Gobierno Español.
Tercera. La fuerza sitiada no queda como prisionera de guerra, siendo acompañada por las fuerzas republicanas a donde se encuentren fuerzas españoles o lugar seguro para poderse incorporar a ellas.
Cuarta. Respetar los intereses particulares sin causar ofensa a personas.

Y, para los fines que haya lugar, se levanta la presente acta por duplicado, firmándola los señores siguientes: el teniente Coronel de la columna sitiadora, Simón Tecson. El Comandante, Nemesio Bartolomé. Capitán, Francisco T. Ponce. Segundo teniente, comandante de la fuerza sitiada, Saturnino Martín. El médico, Rogelio Vigil.

Os heróis saíram da Igreja com suas armas sobre os ombros (só as depuseram um pouco mais adiante) e os filipinos apresentaram as suas armas a eles, num gesto de honraria e de reconhecimento do feito. Era o dia 2 de junho de 1899.

Ficaram ao todo na Igreja sitiada 337 dias!

Resultado do sitio: do lado espanhol, as baixas foram: 17 mortos, 15 devido às doenças beribéri e disenteria e apenas dois mortos devido a ferimentos causados pelos combates; do lado filipino, as baixas foram, entre mortos e feridos, talvez mais de 500.

Tamanha bravura impressionou o presidente filipino Aguinaldo que publicou o seguinte decreto:

Habiéndose hecho acreedoras a la admiración del mundo las fuerzas españolas que guarnecían el destacamento de Baler, por el valor, constancia y heroísmo con que aquel puñado de hombres aislados y sin esperanzas de auxilio alguno, ha defendido su bandera por espacio de un año, realizando una epopeya tan gloriosa y tan propia del legendario valor de los hijos del Cid y de Pelayo; rindiendo culto a las virtudes militares e interpretando los sentimientos del ejército de esta República que bizarramente les ha combatido, a propuesta de mi Secretario de Guerra y de acuerdo con mi Consejo de Gobierno, vengo a disponer lo siguiente:

Artículo Único.

Los individuos de que se componen las expresadas fuerzas no serán considerados como prisioneros, sino, por el contrario, como amigos, y en consecuencia se les proveerá por la Capitanía General de los pases necesarios para que puedan regresar a su país. Dado en Tarlak a 30 de junio de 1899. El Presidente de la República, Emilio Aguinaldo. El Secretario de Guerra, Ambrosio Flores.

Se até o inimigo reconheceu a bravura deles, comparando-os com heróis da Reconquista, como contestá-la? Foi uma grandiosa “derrota com sabor de vitória”. Assim, foi a excelência militar espanhola, que mesmo quando perdeu houve uma honra enorme.

Em Barcelona, na chagada, os sitiados de Baler foram recebidos como heróis e indagado pela imprensa acerca do seu feito, deveras espetacular, Cerezo apenas respondeu: “Não fiz nada mais que a obrigação”.

Todos os heróis receberam várias condecorações, entre elas o de serem “caballeros cubiertos delante del rey”, uma distinção que consistia em não ter a obrigação de tirar o chapéu na presença do monarca espanhol, o que de fato aconteceu quando Afonso XIII recebeu alguns heróis e eles não tiraram os seus chapéus.

Marcelo Andrade

 

CÓRDOBA: SABOR DE VITÓRIA

catedral

Fig.1 A Mesquita-Catedral, vista da ponte romana, tendo o “Triunfo de São Rafael” à direita.

 

 

No tempo do Califado de Córdoba, Almanzor, caudilho muçulmano, aterrorizou os católicos por meio de 56 campanhas militares contra as cidades católicas do norte da Península Ibérica. Como estas expedições eram violentas e próximas do ano 1000, não faltou quem acreditasse que se vivia no fim dos tempos.

Numa destas campanhas, ele saqueou Santiago de Compostela e roubou os sinos das igrejas desta cidade (também levou embora sinos de outras cidades), obrigando os católicos cativos a carrega-los até Córdoba, onde foram transformados em lampadários e em portas da mesquita principal da cidade, a segunda maior do mundo que perdia apenas para a de Meca.

Almanzor só não vandalizou o túmulo do apóstolo porque ficou impressionado com a piedade de um monge que rezava abraçado ao sepulcro.

 

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A cidade de Córdoba foi fundada pelos romanos em 169 A.C. e tornou-se a capital da Hispânia Bética. A grande figura, natural desta cidade e deste tempo foi Sêneca. Após as migrações bárbaras e a conversão de toda a Península Ibérica, a cidade tornou-se católica, pertencente ao Reino Visigótico.

Em 711, as hostes mouras invadiram a Península Ibérica,  derrotaram o exército do Reino Visigótico, que acabou por desaparecer completamente, e estabeleceram a sua capital em Córdoba. No apogeu, a cidade teve mais de 400.000 habitantes. Averróis foi uma das grandes figuras desta época de domínio islâmico nascida nela.

Os católicos que viviam na capital do califado tinham de morar em bairros extramuros e eram cidadãos de segunda classe, não tinham os mesmos direitos dos islâmicos e muitas vezes eram acossados. Os judeus, porém, eram aliados dos mouros e viviam intramuros, Maimônides foi um expoente desta comunidade.

No séc. IX, Santo Eulógio e outros bravos católicos foram perseguidos pelos mouros e foram martirizados. Santa Flora disse na frente do juiz muçulmano que Maomé era adúltero, feiticeiro e bruxo e Santa Maria de Córdoba, na cara do mesmo juiz, disse que o islamismo era uma invenção do demônio.

Em 1236, a cidade foi reconquistada por São Fernando III, rei de Castela e Leão, pondo fim a séculos de domínio mouro.

 

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Córdoba é encantadora.

As ruas labirínticas da cidade antiga, com as casas brancas e os patios sempre decoradas com flores, vencem facilmente em simpatia e em charme o urbanismo moderno com suas ruas pseudorracionais destinadas aos automóveis.

 

patios

Fig 2. Patio de Córdoba

 

Os interessantes bares de tapas (são encontrados em boa parte da Espanha, mas são mais típicos da Andaluzia), sempre alegres, são normalmente decorados com peças de Jamon Serrano penduradas e com fotos de touradas espalhadas pelas paredes. Estes bares, por comparação, derrotam sem piedade os “restaurantes de fast-food” e sua ambiência humilha as calamitosas “praças de alimentação” modernas. Assim, o vinho fino de Montilla-Moriles (região vinícola da província de Córdoba), com sua personalidade marcante, destroça a irracionalidade da Coca-Cola e das bebidas similares. Las tapas, como o jamon, a carrillada etc reduzem a pó o “gosto de isopor” dos hambúrgueres do Mcdonalds e similares.

A Plaza de Toros (presente em boa parte das cidades espanholas) mostra a corrida de toros que vence com facilidade, como espetáculo, os demais esportes como o futebol, o basquete etc. e também desafia o mundo moderno, contrastando suas frescuras, como o delirante “direito dos animais” e o “ecochiismo”.

Na Plaza de las Tendillas há uma bela estátua de El Gran Capitán, nascido na província de Córdoba, o que faz lembrar as esplêndidas campanhas militares dele que ajudaram a Espanha a ser uma potência mundial.

O arcanjo São Rafael é o padroeiro da cidade, ele apareceu várias vezes para o padre Roelas no séc. XVI e prometeu salvar – e de fato salvou- a cidade de uma peste, por isso, espalhadas pela cidade há imagens do “Triunfo de São Rafael”.

A antiga mesquita possui mais de 150 “arcos de ferradura”, erroneamente ensinados como sendo de invenção islâmica, na realidade, são criação visigótica, de modo que muitos arcos foram tirados de antigas igrejas visigóticas e instalados lá. Após a reconquista da cidade, a antiga mesquita se tornou catedral e uma construção, de planta de cruz latina, foi erguida na parte central da antiga mesquita, muitos arcos foram preservados e capelas laterais foram construídas também. É o do tipo de edificação única no mundo.

arcos

Fig3.  Os belos arcos de ferradura na Mesquita-Catedral, de origem remota visigótica.

 

Vista da ponte romana, onde às vezes pode-se ouvir uma buleria vencendo o silêncio, o corpo principal da catedral ergue-se acima das muralhas da antiga mesquita e como que rompendo o teto desta, sobrepõe-se soberana e majestosa, assim como a Religião Católica se impõe como a única verdadeira sobre as demais religiões.

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São Fernando, ciente da história dos “sinos roubados”, ordena, logo após a reconquista da cidade, que os antigos sinos sejam reconstruídos e obriga os mouros cativos a levarem-nos de volta para Santiago de Compostela.

 

Córdoba tem sabor de vitória.

 

São Rafael, São Fernando III e os mártires de Córdoba, rogai por nós.

 

Marcelo Andrade, 2 de janeiro de 2020

OS FORCADOS

forcados

 

Os forcados como imagem de Portugal, coragem em estado puro, na qual o “forcado de cara” deve chamar, enfrentar o touro de mãos desapercebidas e segurar a fera pela cabeça até receber a ajuda dos outros forcados. Esta é a figura do Portugal onde a fé sempre há de permanecer, o Portugal de Vasco da Gama, de Afonso de Albuquerque, de Francisco D´Almeida, de Salvador de Sá que nunca se assustaram ante a força de seus inimigos nem ante o tamanho das tormentas do além mar.

Portugal na frente dos touros!

 

Por Nossa Senhora de Covadonga e de Fátima!

Por Santiago!

ps: VIDEO:

O CAVALO

O CAVALO.png

Puro sangue lusitano (PSI), um “cavalo de rei em dia de triunfo”, como se diz em Portugal.

O CAVALO

Homem tem belo oficio

se usa o corcel como eleição

e só conhecerá beneficio.

 

De rédeas na mente e na mão,

a montaria é vero tesouro,

andar elegante e  tradição.

 

O cavalo é número de ouro,

porte digno  e incontroverso,

nobreza em todo logradouro.

 

Há classe até no passo reverso,

o trote inspira boa oratória,

o  galope é digno de verso.

 

Heróis forjaram sua história,

do covarde e do feio é apartado,

onipresente na luta e na glória.

 

O equino todo dominado

é algo  espiritual  e brioso,

como corpo pela alma domado.

 

Existe transporte mais ditoso?

Na apartação e na tourada,

ele é corajoso e  operoso.

 

Incansável na jornada,

dorme de pé com alteridade,

jamais salta em retirada.

 

E coiceia a mediocridade.

 

Marcelo Andrade

Junho de 2018

 

PS: cavalo em ação na praia de Doñana:

TOLEDO

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                                   Vielas estreitas,
                                   tortuosa, direitas.
                                   Sol. Sombra. Segredos.
                                   Escadarias. Lajedos.
                                   Janelas antigas,
                                   portais, cantigas.
                                   Arcos mouriscos,
                                   desafios, riscos.
                                   Praças ensolaradas.
                                   Lentas badaladas
                                   dos sinos da torre.
                                   Nas tardes calmas,
                                   ardem as almas.
                                   No dia que morre,
                                   preces murmurantes.
                                   Monjas, frades, infantes.
                                   Silêncio na Catedral,
                                   esplendor de vitral.
                                   Crepúsculos de ouro.
                                   Na capital do mouro,
                                   um imperador triunfando.
                                   O Tejo espumando,
                                   bravio nos rochedos,
                                   abraçando Toledo,
                                   cheia de contos e tesouros…
                                   Corrida de touros.
                                   Sol. Sangue. Bravura.
                                   A Espanha de armadura.
                                   Escudos e espadas,
                                   claustros e cruzadas.
                                   Águias de glória.
                                   Em cada pedra, uma história,
                                   em cada recanto uma lenda,
                                   nas muralhas sem fenda
                                   da cidadela de outrora,
                                   nas ruínas de agora.
                                   Estocadas, banderilhas,
                                   damas de mantilhas,
                                   cavaleiros de escol,
                                   Ponte de Alcântara. Porta do Sol.
                                   Ousadia que arranca
                                   dos infiéis, de Maomé,
                                   Santa Maria, la Blanca.
                                   Nas torres queimadas,
                                   almas cruzadas.
                                   Nas muralhas destruídas,
                                   sacrifícios de vidas.
                                   Ao sol, um heroísmo sem medo.
                                   Ao sol, o Alcazar de Toledo.
                                   Orlando Fedeli

TORRE DE BELÉM

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Quem é essa que à beira mar se levanta
com a beleza e a graça de uma Infanta,
que, com a bravura das caravelas,
desafia o mar, os ventos e as procelas ?
         Que torre é essa de porte de raínha,
         com a elegância de uma nau marinha ?
         Que torre é essa de alma forte e guerreira,
         viva e desafiante qual bandeira ?
Torre de Belém, torre da proeza !
Oh alma de pedra e de fortaleza
de Portugal, para sempre encarnada
nesta nau na foz do Tejo ancorada,
quantas glórias tu fazes recordar:
façanhas e triunfos no além-mar !
        Tu lembras, oh caravela lendária,
        a vocação cruzada e missionária
        de Portugal, marujo de olhar fito
        no horizonte, perscrutando o infinito.
Quem? Quem te deu essa brancura de garça,
espalhando-se na onda que se esgarça ?
Quem te deu a leve graça da gaivota
que esvoaça em busca de nova rota ?
        Tu, como Portugal, pequena embora,
        revelas a alma grandiosa que em ti mora,
        tão pequena e grandiosa és, que, talvez,
        tua grandeza venha de tua pequenez.
Do alto de tua plataforma guerreira,
bem se vê tua humildade altaneira.
Quem te vê tão só, te vê tão pequena,
quem te vê tão grandiosa, tão serena,
oh caravela de pedra no Tejo,
compreende tua alma ardente de desejo
de ultrapassar verdes mares e montes,
a sede lusa de vencer horizontes,
a ânsia de ir sempre mais além,
até plantar a Cruz em Jerusalém !
        Portugal, em tuas noites de veludo,
        em tua torre, cada ameia é um escudo,
        na aurora, toda banhada de luz,
        em tua torre, cada escudo, uma cruz.
Torre de Belém, nau petrificada,
em ti vive o espírito da cruzada.
Como não te faria assim teu artista
a ti, oh filha e flor da Reconquista ?
        Dos cavaleiros, tu tens a ousadia,
        tens sua nobreza, sua leal valentia,
        a dureza de suas brancas couraças,
        tens a sua honra, sua grandeza e suas graças.
Que fortaleza nessa torre quadrada,
firme no convés de pedra lavrada !
Como flutuas graciosa sobre as vagas
que te trazem saudades de outras plagas,
gratos e castos beijos do oceano,
por tua renúncia ao solo lusitano.
Recebe das ondas, com suas carícias,
da Índia, tesouros, do Brasil primícias.
       E como tu és amena !
       E como tu és serena !
       E que simplicidade e formosura
       em teu severo claustro de verdura !
Como revela bem lusa confiança,
do Bom Sucesso, a Virgem da Esperança,
em teu convés, Rainha e Capitã
de tua epopéia intrépida e cristã !
       Que graça delicada em teus arcos
       enlevados com as velas dos barcos,
       deslumbrados, olhando para o mar,
       e jamais cansados de o contemplar.
Como lanças tua proa com ousadia,
cortando o mar que em vão te desafia !
E a Vigilância, alerta sentinela,
espreita a mourisca inimiga vela,
nas torretas altivas do convés,
indiferente às ondas a seus pés.
       De tuas salas austeras de convento
       já não mais são levados pelo vento
       cantos de guerra e cantos de mosteiros,
       vozes de monges, vozes de guerreiros !
       Já não mais se ouvem cruzados em prece,
       ora que em Portugal a noite desce.
Oh Torre de Belém, oh caravela,
que grandeza tua vocação revela !
Junto de ti, tudo é tão pequeno,
menos Portugal, a teus pés sereno
e imenso, na imensa epopéia das ondas,
vencidas por suas velas e suas sondas.
                   Torre de Belém, como estás solitária,
                   meditando em tua história lendária !
Onde estão os teus cruzados da vela ?
Onde, teus marinheiros, caravela ?
Onde, os bravos por quem o Tejo chora ?
Onde estão eles? Onde estão, agora ?
                   Torre de Belém, tu já não me escutas ?
                   A que estás atenta ? O que perscrutas ?
                   — “Revejo meus portugueses de joelho,
                   cantando o Credo, em pleno Mar Vermelho !
                   Já não atento a nada que me acerque:
                   tenho saudades do Grande Albuquerque !”
Ah !…Em vão, em vão o vento os procura
na noite de Portugal, triste e escura.
Em vão percorre as ameias desertas,
o convés vazio, as janelas abertas…
Em vão por teu mastro o vento perpassa,
desejando as brancas velas e a graça
de oscular nelas a cruz de sangue,
onde, por amor, Cristo morreu exangue.
Quer arrancar-te desse ancoradouro,
levar-te p’ra o heroísmo imorredouro,
levar-te sobre as ondas do oceano,
em cruzada contra mouro e otomano.
                   Em teu convés de pedra o vento chora,
                   porque já não sais pelo mar afora,
                   as velas do heroísmo e da proeza
                   enfunadas ao vento da grandeza,
                   a combater contra o novo Baal,
                   branca caravela de Portugal !
Ah !… Em vão o vento
sopra o seu lamento,
no Tejo saudoso,
triste e silencioso,
já sem caravelas…
Onde estarão elas ?
                   E vai nos Jerônimos soluçar
                   com o Gama e Camões a rogar
                   a ressurreição gloriosa e imortal
                   da alma-caravela de Portugal !
“Não mais, musa…” Caravela, jamais ?
Terás naufragado ? Não tornarás mais ?
                   Oh Torre de  Belém, tu não vês que o vento,
                   buscando as velas, por um momento,
                   de ti se afasta, deixa o Mar de Palha,
                   e vai pelas serras até a Batalha ?
                   Quem sabe lá, quem sabe lá, talvez,
                   exista inda um coração português,
                   um coração digno do Condestável,
                   e capaz de, intrépido e indomável,
                   desafiar a terra, o mar e o mundo,
                   desprezando tudo o que é vil e imundo.
                   Torre de Portugal, em vão, em vão…
                   Já não há mais portugueses então ?
Já não há mais cristãos atrevimentos ?
E para que o mar ? E para que o vento ?
Para que brilham as estrelas belas,
se já não há mais brancas caravelas ?
                   Se os portugueses não vão mais vencê-las,
                   por que, no mar, as ondas e as procelas ?
                   Se há verdades, não almas para crê-las,
                   como singrariam ousadas caravelas ?
                   Portugal, tuas glórias como esquecê-las ?
                   Como olvidar, oh Torre, o que revelas ?
E não haverá mais quem ame a glória ?
Não há mais quem ouça o vento da História,
trazendo aos bons filhos de Afonso Henrique
a voz das ondas e os brados de Ourique,
e bem alto proclamando: “Real ! Real !
Por Afonso, alto Rei de Portugal “?
                   Não há mais senão almas sem grandeza,
                   almas vis, insensíveis à proeza ?
                   Não haverá senão homens incréus,
                   que olham só p’ra a lama e não para os céus ?
Terra de Portugal, geme e chora;
geme com o vento, com o Tejo chora.
Ajoelha-te aos pés da Virgem e implora.
Ela só pode te valer agora,
que a ralé infame renega em tuas praças,
tua Fé, tua glória e tuas graças.
Chora, oh terra de Santa Maria,
que dos teus sofres a tirania !
                   Chora por tua queda e apostasia,
                   porque em ti, Portugal, reina a baixeza.
                   São teus ídolos número e torpeza.
                   Amastes a chulice e a vulgaridade,
                   sofismas e mentiras da impiedade.
                   Chora a tua surdez pelo heroísmo,
                   e teu repúdio ao Catolicismo.
                   Chora, sim, Portugal, os teus muros
                   cheios de lemas imbecís e impuros:
                   Viva o MAF ! Viva a Demagogia !
                   Viva Marx ! Viva a Pornografia !
Torre de Belém, que desolação !
Que vergonhosa capitulação !
Portugal, que crepúsculo de lama,
que noite suja abafou tua chama !
                   Torre de Belém, oh alma imortal,
                   coração épico de Portugal,
                   inflama-te, pulsa, pulsa de novo,
                   e faz correr nas veias de teu povo
                   o sangue heróico que enrubesce a face,
                   pelo amor da proeza que renasce.
Oh Torre de Belém, torre imortal,
desperta, ressuscita Portugal !
Dá-lhe sede de horizontes distantes,
desprezo pelas coisas infamantes.
                   Caravela de Portugal, “Plus Ultra !”
                   Leva a rubra cruz das velas Plus Ultra !
                   Retorna a ser o que foste em Ourique,
                   de joelhos com Dom Afonso Henrique !
                   Repudia as trinta moedas do teu escudo,
                   que só na cruz de Cristo terás tudo !
Branca Torre, conta, conta o segredo
de tua grandeza heróica e sem medo!
Diz para Portugal o que te disseram
o vento e o mar, que teus bravos venceram.
Portugal, escuta o vento da História !
Escuta a Torre cantar tua glória !
                   Quando o vento sopra, vindo do mar,
                   fala das almas a cristianizar,
                   de povos rudes a civilizar .
                   E quando o vento vem da velha terra,
                   fala de bravura de alma e de guerra,
                   do Condestável, da Virgem Maria
                   que disse que tua Fé não morreria.
                   Fé que te deu  grandes alentos
                   p’ra sempre mais cristãos atrevimentos !
                   E se a Fé em ti não perecerá,
                   então, Portugal jamais morrerá !
Promessa de Fátima, garantia
do triunfo do Coração de Maria !
Garantia que a branca caravela
de novo singrará o mar, e mais bela,
velas brancas ao vento da proeza.
Promessa que é, de vitória e certeza
de que o triunfo de Maria profetiza,
e o século vinte anatematiza !
Promessa de Fátima que anuncia
aos pastores lá na Cova da Iria,
vibrante, qual trombeta triunfal:
Real ! Real ! Por Deus ! Por Portugal !
                   Portugal, terra de Santa Maria,
                   ouve a mensagem da Cova da Iria !
Oh Torre, oh caravela sacral,
roga, roga à Virgem por Portugal !
Oh Torre de Belém, se estás de pé,
vive a alma de Portugal pela Fé !
                   Torre de Belém,  querer resoluto,
                   a Portugal heróico em ti revejo.
                   Oh caravela ancorada no Tejo,
                   que desejo do Bem absoluto !
                   De Deus infinito, ah!  que  desejo !
Torre de Belém,
branca flor, alma de glória imortal !
Torre de Belém,
branca caravela de Portugal !
                            Orlando Fedeli.